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9.3.06

De uns tempos pra cá passei a praticar um esporte chamado Skimboard, que nada mais é além da arte de jogar um pedaço de madeira ou fibra no mar, sair correndo atrás, pular em cima e, de preferência, tomar uma queda que faça com que os seus amigos sentados na areia dêem umas risadinhas. Machuca um pouco, mas você não corre o risco de ter o saco arrancado por um tubarão, como no surfe.

Antes que perguntem, não sou eu na foto. Foi a primeira que encontrei no Google.

Alguns skimboarders mais fodões costumam pegar um impulso que os faça chegar até uma onda e brincar de surfista. Claro que isso depende também da praia. Se não houverem ondas no raso, nada feito. Aqui em Salvador, infelizmente, não existem praias ideais para o Skimboard.

Skimboarder fodão. As manobras são mais difíceis do que numa prancha normal, porque o skimboard não tem quilhas (você já devia ter deduzido isso na primeira foto).

Agora que já têm as noções básicas do esporte, vamos à história. Isso aconteceu há uns dois meses, mas a minha preguiça em escrever (que vocês devem ter notado ultimamente) me impediu de relatar esse acontecimento antes.

Era mais um dia comum de verão, com as andorinhas rasgando o céu, os vendedores de cds faturando uma nota preta e a farofa comendo solta na praia. Eu tinha a prancha havia poucos dias, e a minha exibição ainda não era uma coisa bonita de se ver (hoje eu dou hardflips e mortais triplos carpados). Fiquei muito feliz, então, quando consegui com êxito girar a prancha 180° e depois ficar em cima (aos Tony Hawkianos, um Pop Shove-It) sem quebrar ao menos uns três ossos durante as tentativas.

Após repetir a manobra com sucesso cerca de cinco vezes, me senti tentado a fazer algo assim:

Usar uma onda como rampa, voar feito uma galinha e mergulhar na areia (não necessariamente nessa ordem; eu costumava meter a cara no chão antes mesmo de colocar os dois pés na prancha).

Tomei coragem e resolvi ir em direção às ondas, ao invés de só "surfar" em paralelo a elas (ver primeira foto). O máximo que podia me acontecer, afinal, era cair de cabeça e ter de ficar numa cadeira de rodas pelo resto da vida. E isso é besteira, já me aconteceram coisas piores.

Na primeira tentativa, a prancha parou antes de chegar na onda pelo excesso de água e falta de impulso. Quanto mais raso, mais velocidade. Na segunda, corri um pouco mais, só que já peguei a onda quebrada. Me convenci de que aquela praia não era apropriada. Era quase impossível chegar ao ponto onde elas estavam quebrando (ver terceira foto: fica claro que a onda quebra na areia). Só por desencargo de consciência, quis tentar mais uma vez. Esperei o momento certo e me pus a correr. Pulei na prancha e fui chegando cada vez mais longe. Consegui alcançar a onda quando já estava começando a quebrar, mais um segundo e eu não conseguiria.

Com a "rampa", subi cerca de um metro e meio e caí no mesmo lugar. Quando me recompus, notei a falta da prancha. Passei o olho em volta e pude vê-la já no raso, deslizando em direção à areia, impulsionada pela onda. E bateu a preocupação: vinha um grupo com três pessoas - uma velha e um casal jovem - em rota de colisão com ela. Os três vinham pela esquerda, caminhando na areia, e a prancha chegava por baixo.

Prancha quadrada por motivo óbvio: eu não estava conseguindo desenhá-la com curvas.

Fiz alguns cálculos mentalmente incluindo a velocidade do vento, força da onda, atrito e cheguei à conclusão: esta merda vai bater em alguém. Felizmente, meus cálculos indicaram também que não haveriam maiores problemas, uma vez que a prancha tem 15mm de espessura e iria atingir apenas algum pé numa baixa velocidade. O impacto seria praticamente nulo, pois a onda perdia cada vez mais força.

Mas eu não contava com a repentina aceleração das nossas três personagens. Os infelizes resolveram apressar o passo justamente naquele inoportuno momento. O resultado foi que a primeira pessoa do grupo - desgraçadamente a velha - fez contato com o "projétil" antes do esperado. Ao invés de tomar uma suave porradinha no pé, ela pisou em cima da prancha, desequilibrando-se instantaneamente.

Colocou primeiro o pé direito, e toda a perna foi conduzida para a frente (o atrito naquela parte era quase nulo). Felizmente, o calcanhar ficou para fora, freiando a prancha. Por um momento pensei que estava salvo. Mas menos de um segundo após se estabilizar, a velha foi recolher a perna esquerda, que havia ficado para trás. Quando levantou-a, o peso do seu volumoso corpo ficou todo concentrado na ponta do pé direito. A prancha voltou a deslizar, e então, tal como um gigante derrotado pelo Mega Zord dos Power Rangers, mas com menos fagulhas e explosões, a velha desmoronou.

Só pensei numa coisa: é, agora fodeu. E nem imaginava o pior.

Fui correndo em direção à areia preocupado, peguei a prancha e me abaixei para pedir desculpas à velha, que já estava sendo ajudada pelos outros dois, filhos dela. Esperava que fosse apenas um susto, e que ela logo se levantasse. Só percebi a gravidade da situação quando ela disse:

- Uai! Quebrei meu braço!

Os curiosos foram se aproximando, e eu estava ficando cada vez mais nervoso. Meu maior medo era que meus pais vissem aquilo. Eles ficavam o tempo todo dizendo "a praia tá muito cheia, você vai acabar machucando alguém". E a velha começou a falar:

- Você é muito irresponsável! Fica usando isso aí com tanta gente andando na areia!

- Desculpa... (Da próxima vez olhe por onde anda, sua caduca!)

- Você devia tomar mais cuidado, seu louco!

- Não foi de propósito... (Cala essa boca, caralho!)

- Você não sabia que isso pode machucar as pessoas, hein?

- Caramba, eu já pedi desculpas! (Olha aqui, sua vagabunda. Se abrir a boca mais uma vez, eu vou enterrar a prancha nessa sua testa cheia de rugas!)

A filha viu que a coisa estava esquentando e resolveu intervir:

- Mãe, ele não teve culpa. - e se virou para mim - Pode ficar tranqüilo.

Me pareceu um convite, mas o irmão dela estava com tanta raiva que nem colocava os olhos em mim. E ele era meio fortinho, não ia admitir que um cara quebrasse o braço da mãe e ainda catasse a irmã. Deixei pra lá.

Nessa hora, terminaram de enrolar o braço da velha num pano qualquer. Ajudaram-na a levantar-se e foram andando bem devagar, enquanto ela não parava de dizer dizer "tá doendo muito!". Apressei o passo e fui andando em direção à barraca onde meus pais estavam. Distraído com o skim, eu havia parado muito longe.

Cheguei meio desconfiado que eles soubessem de alguma coisa, mas ao que parecia estavam longe o bastante para não reparar em toda a confusão. Tomei uma Coca, e quando tudo havia acabado (inclusive a Coca), não resisti: comecei a soltar gargalhadas profundas, daquelas que a praia inteira ouve. Sinceramente, acho que nunca me diverti tanto com a desgraça alheia.

O melhor que você pode fazer é se afastar de mim. Eu sou muito mau.

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